Críticas │ Viva: A Vida é uma Festa (2017)

Viva: A Vida é uma Festa (2017)Coco

EUA, 2017. 1h45min. Classificação Indicativa: Livre. Direção: Lee Unkrich, Adrian Molina (codiretor). Roteiro: Lee Unkrich, Jason Katz. Elenco: voz de Anthony Gonzalez (Miguel), voz de Gael García Bernal (Héctor), voz de Benjamin Bratt (Ernesto de la Cruz), voz de Alfonso Arau (Papá Julio), voz de Edward James Olmos (Chicharrón), voz de Cheech Marin (Corrections Officer).

Se fôssemos resumir esta nova animação da Pixar (pertencente à The Walt Disney Company desde 2006) em uma só palavra, seria: excepcional. Certamente, é o filme mais sentimental do estúdio e já entrou para seu catálogo como mais uma de suas obras-primas (o filme rendeu, no mundo inteiro, $739,256,010).

É curioso (e louvável) uma animação de um estúdio norte-americano que se passa todo no México, com um elenco completamente composto por atores latinos, na dublagem original. Chega a ser até bastante ousado, pois o presidente dos EUA, Donald Trump (2017 –     ) insiste em construir um muro entre os Estados Unidos e o México (às custas do próprio povo mexicano) para impedir que eles emigrem. Mas, toda a história (e a cultura abordada daquele país) é retratada com carinho e muito respeito.

Também é corajosa a abordagem do tema central: a Morte (além dos outros temas, como: a importância da família, o amor à música, o respeito às tradições, os objetivos almejados, o conflito profissional, a estrutura matriarcal, o mundo da espiritualidade).

Os falecidos são lembrados através de costumes peculiares: roupas de esqueletos, máscaras de caveiras, figuras exóticas da morte, flores típicas, celebração de rituais festivos, oferecimento de velas e incensos, preparo das comidas preferidas dos falecidos.

Mas, não é assustador para as crianças, pois é uma das festas mexicanas mais animadas, período que os mortos têm permissão para visitar seus parentes, e sempre são retratados como simpáticos esqueletos.

Muito mais do que uma ótima técnica de animação, personagens carismáticos, belas imagens e cenas esteticamente esplêndidas, o que mais chama a atenção é a história muito bem construída e, especialmente, muito bem narrada.

O roteiro original é ótimo: o garoto Miguel Rivera sonha em tornar-se um músico famoso como seu ídolo de grande sucesso, Ernesto de la Cruz (são apresentados vários elementos do país, especialmente os populares Mariachis). Mas, as gerações de sua família possuem uma antiga tradição: a proibição da música (todos trabalham na pequena fábrica de sapatos da família).

Desesperado por provar seu talento, seguindo uma misteriosa série de eventos em comemoração ao festival mexicano do Dia dos Mortos (feriado de 2 de novembro (mesma data de Finados, no Brasil)), Miguel vai encontrar-se no deslumbrante e colorido Mundo dos Mortos.

Ao longo do caminho, sempre ajudado pelo fiel cachorro, Dante (cão da raça conhecida como Xolo, considerado o cachorro símbolo do México), ele conhece o divertido Hector, e juntos, partirão em uma jornada extraordinária para desvendar os verdadeiros acontecimentos por trás da sua história familiar.

As cenas da exuberante ponte de pétalas laranja brilhantes, que liga o mundo dos espíritos ao mundo da matéria, são ornamentadas com flores de Calêndula, típicas dos cemitérios mexicanos.

Dramaticamente, o filme funciona com perfeição: o tataravô de Miguel abandonou a esposa e a filha pequena para seguir a carreira de músico; para não virar um esqueleto para sempre, o pequeno Miguel precisa voltar ao Mundo dos Vivos antes que o dia amanheça; os mortos do Mundo dos Mortos, caso não sejam lembrados pelos vivos do Mundo dos Vivos, são desintegrados em feixes de luz; as reviravoltas sobre a família do protagonista; a ajuda das criaturas mágicas (Alebrijes) no Mundo dos Mortos; as resoluções tocantes no final (será difícil segurar as lágrimas), no melhor estilo “dramalhão de novela mexicana” e, com certeza, vai fazer o expectador se emocionar.

Algumas figuras famosas da história mexicana também são homenageadas como: a pintora Frida Kahlo (voz de Natalia Cordova-Buckley); o herói folclórico lutador de luta livre, El Santo; o ídolo mexicano Pedro Infante; o ator comediante Cantinflas; o cantor Jorge Negrete; o revolucionário Emiliano Zapata; e a lendária estrela Maria Felix.

Quem assina a trilha sonora é o compositor Michael Giacchino, tradicional nas animações da Pixar, como: Os Incríveis (2004), Ratatouille (2007), Up: Altas Aventuras (2009) e Divertida Mente (2015).

O título original chama-se Coco. No Brasil, o título foi alterado para não confundir com a palavra “cocô”, maneira informal de referir-se a fezes. O título vem de Mamá Coco (voz de Ana Ofelia Murguía), como é chamada a adorável meiga velhinha bisavó de Miguel, que sofre problemas de memória, personagem este que dá todo sentido ao filme. Mas, na dublagem brasileira, deixa de chamar-se Mamãe Coco, diminutivo de Socorro (nome bastante comum no México), e foi mudado para Mamá Lupita.

Recebeu o prêmio Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme de Animação e o Oscar 2018 de Melhor Animação (além de Melhor Canção Original).

Escrito e dirigido por Lee Unkrich, dos clássicos (codiretor de) Monstros S.A. (2001), (codiretor de) Procurando Nemo (2003) e (diretor de) Toy Story 3 (2010), Viva: A Vida é uma Festa (2017) é, simplesmente, comovente.

Divirta-se!

Fontes: IMDb, Walt Disney Pictures, Walt Disney Studios Motion Pictures, Walt Disney Studios Home Entertainment, Walt Disney Studios BR, Pixar Animation Studios.