Críticas │ Desejo de Matar (2018)

Desejo de Matar (2018) Death Wish

EUA, 2018. 1h47min. Classificação Indicativa: 18 anos. Direção: Eli Roth. Roteiro: Joe Carnahan, (baseado no livro de) Brian Garfield, (baseado no roteiro do filme de 1974 escrito por) Wendell Mayes. Elenco: Bruce Willis (Paul Kersey), Vincent D’Onofrio (Frank Kersey), Elisabeth Shue (Lucy Kersey), Camila Morrone (Jordan Kersey), Dean Norris (detetive Kevin Raines), Kimberly Elise (detetive Leonore Jackson), Beau Knapp (Knox).

Refilmagem do clássico homônimo da década de 1970, Desejo de Matar (Death Wish, 1974), estrelado por Charles Bronson, que acabou virando uma cinessérie que marcou época e é lembrado com muito carinho pelos fãs (além de ter sido o maior sucesso do renomado ator).

A franquia é formada por:

Desejo de Matar (Death Wish, 1974), de Michael Winner, com Charles Bronson, Hope Lange, Vincent Gardenia.

Desejo de Matar 2 (Death Wish II, 1982), de Michael Winner, com Charles Bronson, Jill Ireland (que era mulher de Bronson na vida real), Vincent Gardenia.

Desejo de Matar 3 (Death Wish 3, 1985), de Michael Winner, com Charles Bronson, Deborah Raffin, Ed Lauter.

Desejo de Matar 4 – Operação Crackdown (Death Wish 4: The Crackdown, 1987), de J. Lee Thompson (especialista em filmes de Charles Bronson), com Charles Bronson, Kay Lenz, John P. Ryan.

Desejo de Matar 5 (Death Wish V: The Face of Death, 1994), de Allan A. Goldstein, com Charles Bronson, Lesley-Anne Down, Michael Parks.

E, agora, esta refilmagem: Desejo de Matar (Death Wish, 2018), de Eli Roth, com Bruce Willis, Vincent D’Onofrio, Elisabeth Shue.

Era bastante polêmico, pois trazia um tema muito controverso: a “Justiça pelas próprias Mãos”. Tornou-se cult, pois era um “Filme de Vingança”, e o espectador se identificava e torcia pelo herói. Paul Kersey (Charles Bronson), é um arquiteto, casado e feliz, em Nova York. Em uma tarde, depois das compras em um supermercado, sua mulher, Joanna Kersey (Hope Lange, de A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (A Nightmare on Elm Street Part 2: Freddy’s Revenge, 1985)), e sua filha são atacadas por três marginais (um dos assaltantes é o hoje famoso Jeff Goldblum, de A Mosca (The Fly, 1986); e da saga “Parque dos Dinossauros”, 1993/1997/2018). A mulher morre, a filha é violentada e entra em estado de choque. A polícia não consegue identificar os criminosos. Assim, ele sai à noite, atraindo os bandidos, para depois matá-los (Bronson também não encontra os assassinos). A imprensa o apelida de “O Vigilante”. Era um filme “sério”, quase um Drama.

O tema “Vingança”, sempre foi uma recorrente na História do Cinema. Recentemente, tivemos o premiado O Regresso (The Revenant, 2015), filme que deu o Oscar de Melhor Ator a Leonardo DiCaprio, que nada mais era do que um “Filme de Vingança” disfarçado de “Filme de Arte”.

Vingança, no Cinema, precisa vir acompanhada por subtemas ou subtramas, pois não se trata de um “sentimento nobre”. Caso contrário, torna-se um roteiro fraco, com uma história que já foi vista inúmeras vezes e que não desperta mais interesse no público intelectualizado e, por sua vez, mais crítico.

Normalmente, subtemas como “Amor”, “Honra”, “Família”; ou subtramas como “Contextos Históricos”, “Religião”, “Política”, ajudam muito na construção da trama. “Vingança” por “Vingança”, tradicionalmente, demonstra falta de criatividade (ou falta de competência) dos roteiristas.

Clássicos como Conan, o Bárbaro (Conan the Barbarian, 1982), de John Milius, estrelado por Arnold Schwarzenegger, James Earl Jones, Max von Sydow; e Era uma Vez no Oeste (C’era una volta il West/Once Upon a Time in the West, 1968), de Sergio Leone, com Henry Fonda, Claudia Cardinale, e o próprio Charles Bronson; são exemplos de filmes que possuem o tema “Vingança”, mas acompanhados de outros temas e tramas. Assim, os filmes ganham mais força, impacto e tornam-se inesquecíveis e atemporais.

O original da saga era produzido pelo italiano Dino de Laurentiis, e os demais a produção ficou a cargo da dupla de primos israelenses, Golan-Globus (Menahem Golan e Yoram Globus), da Cannon Films (o 5º filme é creditado pela 21st Century Films, de Menahem Golan, depois que a Cannon faliu). Esta nova versão saiu pelo selo da MGM.

Tornou-se uma série do gênero policial que tinha grande sucesso nas locadoras de vídeo da década de 1980, juntamente com os policiais estrelados por: Clint Eastwood, da saga “Dirty Harry” (ex: Impacto Fulminante (Sudden Impact, 1983)); Mel Gibson, da saga “Máquina Mortífera” (Lethal Weapon, 1987); Chuck Norris, dos policiais do diretor Steve Carver (ex: Olho por Olho/O Ajuste de Contas (An Eye for an Eye, 1981)); e Steven Seagal, da saga “A Força em Alerta” (Under Siege, 1992); entre outros.

E, ainda, tínhamos também os campeões de locação: o próprio Bruce Willis, com a saga “Duro de Matar” (ex: Duro de Matar (Die Hard, 1988), Duro de Matar 2 (Die Hard 2, 1990)); Sylvester Stallone, com os ótimos policiais: Os Falcões da Noite (Nighthawks, 1981), Stallone Cobra (Cobra, 1986), e Tango e Cash – Os Vingadores (Tango & Cash, 1989), com Kurt Russell; e Arnold Schwarzenegger, com Jogo Bruto (Raw Deal, 1986), Inferno Vermelho (Red Heat, 1988); entre outros.

Aqui, temos a atualização do personagem: Paul Kersey (agora interpretado por Bruce Willis), é um médico cirurgião, casado e feliz (esta mudança de profissão é muito adequada, pois ajuda no conflito moral do personagem quando precisa matar os bandidos: um médico que tem o “dever” de salvar vidas, se vê na “obrigação” de “tirar” vidas), em Chicago.

Após ter sua casa invadida; a esposa, Lucy Kersey (Elisabeth Shue, de O Homem Sem Sombra (Hollow Man, 2000)), assassinada por bandidos; e a filha, que acabou de ser aprovada na faculdade, em coma; o personagem de Bruce Willis passa a acompanhar a polícia nas investigações para capturar os criminosos.

Percebendo a falta de competência dos investigadores, e, sem opções, o protagonista sai em uma jornada pessoal em busca de justiça. Entra em cena também, o tio Frank Kersey (Vincent D’Onofrio, de Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987), de Stanley Kubrick), personagem este que não existia no filme original.

Assim, Paul Kersey começa a achar os bandidos que arruinaram a sua vida e passa a matá-los (por este motivo, a história ficou mais parecida com a do segundo filme (Desejo de Matar 2 (Death Wish II, 1982)), do que com a do primeiro). Agora, ele é apelidado de “O Anjo da Guarda”/“Ceifador de Vidas”.

E, no melhor estilo Kick-Ass: Quebrando Tudo (Kick-Ass, 2010), o herói vira memes, discussões em programas de rádio, e acaba viralizando na internet (até sendo imitado).

O filme é dirigido por Eli Roth, responsável pelos filmes: O Albergue (Hostel, 2005), de Eli Roth, com Jay Hernandez, Derek Richardson, Eythor Gudjonsson; O Albergue 2 (Hostel: Part II, 2007), de Eli Roth, com Lauren German, Heather Matarazzo, Bijou Phillips; (e baseado em seus personagens) O Albergue 3 (Hostel: Part III, 2011), de Scott Spiegel, com Kip Pardue, Brian Hallisay, John Hensley; e ajudou a popularizar o subgênero de filmes de terror da década de 2000, denominados Torture Porn (combinação de violência gráfica e imagens sexualmente sugestivas), juntamente com a franquia “Jogos Mortais” (Saw).

Eli Roth também é conhecido por sua atuação em Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), de Quentin Tarantino, onde interpretou o Sgt. Donny Donowitz/“O Urso Judeu”, que matava nazistas com um bastão de beisebol.

Mas, o diretor Eli Roth continua fiel ao seu estilo: sádico, cruel, grotesco, com violência gratuita, não tem sensibilidade, não tem bom-senso, seu humor é infantilóide, e ele não é, especialmente, talentoso (apesar da cena do elevador, que é, realmente, bastante inesperada; a boa cena do mecânico e o macaco hidráulico; a morte do traficante “homem do sorvete”; e a fotografia do filme ser bonita; alguns tiroteios).

Mas, é no final mesmo que o filme se revela a favor da “Justiça pelas próprias Mãos”, através da atitude simpática dos detetives com o polêmico herói justiceiro.

Portanto, o filme parece deslocado do seu contexto social atual, uma vez que os EUA estão discutindo as restrições ao porte de armas, devido ao grande número de atiradores nas escolas norte-americanas, pressionando o presidente Donald Trump (2017-   ); pois a mensagem duvidosa do filme é: “se você quiser proteger a sua família, tem que protegê-la você mesmo; mesmo que tiver que andar armado e, se for preciso, matar”. Pensamento letárgico clássico dos americanos.

Mas, como diversão passageira, sem aprofundamentos e sem conteúdo, se você não for muito exigente, é capaz de se divertir.

Um filme reacionário!

Para quem gosta do tema, recomendo os clássicos policiais:

Desejo de Matar 3 (Death Wish 3, 1985), de Michael Winner, com Charles Bronson, Deborah Raffin, Ed Lauter.

Magnum 44 (Magnum Force, 1973), de Ted Post, com Clint Eastwood, Hal Holbrook, Mitchell Ryan.

Mad Max (Mad Max, 1979), de George Miller, com Mel Gibson, Joanne Samuel, Hugh Keays-Byrne.

Recomendo também as divertidíssimas obras-primas:

Oldboy (Oldeuboi, 2003), de Chan-wook Park, com Min-sik Choi, Ji-tae Yu, Hye-jeong Kang. [o filme possui uma refilmagem: Oldboy: Dias de Vingança (Old Boy, 2013), de Spike Lee, com Josh Brolin, Elizabeth Olsen, Samuel L. Jackson]

Kill Bill: Volume 1 (Kill Bill: Vol. 1, 2003), de Quentin Tarantino, com Uma Thurman, David Carradine, Daryl Hannah [o filme possui uma continuação direta: Kill Bill: Volume 2 (Kill Bill: Vol. 2, 2004), também de Quentin Tarantino, estrelado também por Uma Thurman, além de David Carradine, Michael Madsen].

Divirta-se!

Fontes: IMDb, Box Office Mojo, Cave 76, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM).

Veja também:

Críticas │ Desejo de Matar 3 (1985): Clique aqui!