Críticas │ O Homem das Cavernas (2018)

O Homem das Cavernas (2018) Early Man

USA/UK/FRA, 2018. 1h29min. Classificação Indicativa: Livre. Direção: Nick Park. Roteiro: Mark Burton, James Higginson (história de Nick Park). Elenco: [vozes originais] Eddie Redmayne (voz de Dug), Tom Hiddleston (voz de Lord Nooth), Maisie Williams (voz de Goona), Timothy Spall (Chefe Bobnar), Miriam Margolyes (Rainha Oofeefa), Nick Park (Hognob).

É impressionante (e, louvável), que ainda exista uma produtora como a Aardman, estúdio de animação britânico, especializado na dificílima técnica do stop-motion (animação quadro-a-quadro [especialmente animação de massinhas e bonecos]).

Se hoje temos cineastas como Peter Jackson [da saga “Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”], James Cameron [da saga “O Exterminador do Futuro” e “Avatar”], George Lucas [da saga “Star Wars”], e Steven Spielberg [da saga “Indiana Jones” e “Parque dos Dinossauros”]; diretores que, normalmente, trabalham com filmes que utilizam-se de efeitos especiais, é devido às películas que os mesmos assistiam de ficção-científica (período referido como filmes de Monstros e Alienígenas, compreendendo, em grande parte, a década de 1950, e seus inúmeros “Filmes B”); e que valiam-se de efeitos especiais, especialmente o stop-motion [muito influenciados por Willis O’Brien [da saga “King Kong”], e Ray Harryhausen [da saga “Sinbad”]].

O grande nome da Aardman é o genial e brilhante premiado diretor Nick Park, responsável pela obra-prima A Fuga das Galinhas (Chicken Run, 2000), (codireção de Peter Lord, um dos fundadores do estúdio); Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais (The Curse of the Were-Rabbit, 2005), (codireção de Steve Box) [prêmio Oscar de Melhor Filme de Animação, de 2006]; e produtor de Shaun: O Carneiro (Shaun the Sheep Movie, 2015), dirigido por Mark Burton, Richard Starzak.

Esta nova animação, O Homem das Cavernas (Early Man, 2018), conta a história de Dug (Eddie Redmayne; premiado com o Oscar de Melhor Ator em 2015 por A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014)), um corajoso homem das cavernas, e sua tribo que, no tempo em que dinossauros e mamutes ainda corriam livremente pela Terra (!), são expulsos de seu tranquilo vale verdejante, pelo inescrupuloso vilanesco Lord Nooth (Tom Hiddleston; o Loki, da cinessérie da Marvel “Thor” 2011/2013/2017 e “Os Vingadores” 2012/2018), forçados, assim, a viver nas inóspitas terras vulcânicas.

No entanto, para recuperar seu lar, Dug, sua tribo e seu porco de estimação Hognob (o próprio diretor Nick Park, sem diálogos), unem-se e formam uma equipe da Idade da Pedra para um conflito contra um inimigo poderoso da Idade do Bronze. E, a batalha será… um jogo de futebol!

Para isso, eles têm a ajuda de Goona (Maisie Williams; a Arya Stark da espetacular Série de TV Game of Thrones (Game of Thrones, 2011-   )), que treina o time primitivo (pois ela é mulher e nunca teve a oportunidade de jogar em solo sagrado: o campo de futebol); e o vencedor, além de ser vitorioso no jogo, ter o respeito da rainha, da equipe adversária e da multidão, terá o vale de volta, onde, tradicionalmente, caçam coelhos. O segredo é: trabalhar em equipe, pois o time adversário é formado por estrelas arrogantes e egoístas.

O filme demonstra a paixão dos ingleses pelo futebol (o protagonista percebe, em pinturas nas cavernas, que seus próprios ancestrais inventaram e já tinham jogado futebol).

E, os temas também são muito importantes: o trabalho em equipe, dar oportunidade ao “diferente”, determinação e dedicação, respeito aos mais velhos, mensagem sobre família, união, sonhos… e, esporte!

Como de costume, tecnicamente, a animação (totalmente manual e demorada [não é a toa que levou 10 anos para fazer este outro filme]; simulação de movimentos de câmera; design de produção), é ótima; e algumas cenas se destacam: o início quando o meteoro cai na Terra e descobre-se a bola e o começo do jogo de futebol; a caça da tribo ao coelho; o herói participando, por acaso do jogo profissional como goleiro; a massagem do porco no vilão; o treinamento da heroína nos desastrados primitivos homens das cavernas, o jogo de futebol decisivo; a tentativa do vilão em trapacear.

A história lembra um pouco a ótima comédia chinesa (Hong Kong/China), Kung-Fu Futebol Clube (Siu Lam juk kau/Shaolin Soccer, 2001), de Stephen Chow, principalmente o time amador no jogo final; e também o ótimo tailandês Ong-Bak – Guerreiro Sagrado (Ong-bak, 2003), com Tony Jaa, onde um corajoso guerreiro precisa enfrentar inimigos saqueadores para salvar sua aldeia. E, os personagens poderiam ser mais simpáticos (especialmente da tribo primitiva), e as piadas mais engraçadas. Está mais para o “football britânico”, do que para o “futebol brasileiro”.

Apesar das críticas positivas e da boa recepção por parte do público, o filme não foi tão bem de bilheteria: custou estimados $50,000,000 milhões e arrecadou, mundialmente, $49,395,285 milhões [só $8,267,544 milhões nos EUA], ou seja, até agora não se pagou em sua totalidade.

Mas, é uma animação leve, simpática e divertida.

Para quem adora a Aardman, também vai gostar das animações:

Piratas Pirados! (The Pirates! In an Adventure with Scientists! / The Pirates! Band of Misfits, 2012), de Peter Lord, Jeff Newitt (codiretor), com as vozes de Hugh Grant, Salma Hayek, Jeremy Piven.

Os geniais curtas-metragens de Wallace & Gromit:

Wallace & Gromit em 3 Aventuras Explosivas: Wallace & Gromit: Um Grande Passeio / Dia de Folga (A Grand Day Out, 1989), de Nick Park [indicado ao Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação, de 1990 [o próprio Nick Park venceu, mas por outro curta: Creature Comforts (1989)]]; Wallace & Gromit: As Calças Erradas (The Wrong Trousers, 1993), de Nick Park [Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação, de 1994]; Wallace & Gromit: O Fio da Navalha / Tosa Completa (A Close Shave, 1995), de Nick Park [Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação, de 1996].

As Incríveis Aventuras de Wallace e Gromit (The Incredible Adventures of Wallace & Gromit, 2001), com os curtas-metragens: As Calças Erradas, A Grande Viagem e Por Um Triz.

Por Água Abaixo (Flushed Away, 2006), de David Bowers, Sam Fell, com as vozes de Hugh Jackman, Kate Winslet, Ian McKellen.

Se você gosta de live-action (termo utilizado para definir trabalhos que são realizados por atores reais), com stop-motion [é uma tecnologia que não utilizava-se de efeitos CGI (Computer Generated Imagery ou Imagens Geradas por Computador); pode parecer datado para os padrões atuais; até um pouco nostálgicos; mas, são efeitos especiais extraordinários até hoje], recomendo os clássicos filmes do mestre Ray Harryhausen:

Simbad e a Princesa (The 7th Voyage of Sinbad, 1958), de Nathan Juran, com Kerwin Mathews, Kathryn Grant, Richard Eyer.

A Nova Viagem de Sinbad (The Golden Voyage of Sinbad, 1973), de Gordon Hessler, com John Phillip Law, Caroline Munro, Tom Baker.

Simbad e o Olho do Tigre (Sinbad and the Eye of the Tiger, 1977), de Sam Wanamaker, com Patrick Wayne (filho de John Wayne), Jane Seymour, Taryn Power.

Jasão e o Velo de Ouro (Jason and the Argonauts, 1963), de Don Chaffey, com Todd Armstrong, Nancy Kovack, Gary Raymond.

Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 1981), de Desmond Davis, com Laurence Olivier, Harry Hamlin, Claire Bloom, Ursula Andress. [possui uma moderna refilmagem: Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010), de Louis Leterrier, com Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes; que, por sua vez, teve uma continuação: Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012), de Jonathan Liebesman, com Sam Worthington, Liam Neeson, Rosamund Pike]

Também recomendo um clássico magnífico do stop-motion [mas, não é de Ray Harryhausen]: Jack, O Matador de Gigantes (Jack the Giant Killer, 1962), de Nathan Juran [mesmo diretor de Simbad e a Princesa (The 7th Voyage of Sinbad, 1958)], com Kerwin Mathews [também com o mesmo protagonista de Simbad e a Princesa (The 7th Voyage of Sinbad, 1958)], Judi Meredith, Torin Thatcher.

Divirta-se!

Fontes: IMDb, Box Office Mojo, Aardman Animations, Amazon Prime Instant Video, BFI’s Film Found, British Film Institute (BFI), Creative Skillset’s Skills Investment Fund, StudioCanal, Studiocanal S.A.S., Lionsgate, Summit Entertainment, ParisFilmes.