Críticas │ Três Anúncios para um Crime (2017)

Três Anúncios para um Crime (2017) Three Billboards Outside Ebbing, Missouri

UK/USA, 2017. 1h55min. Classificação Indicativa: 16 anos. Direção: Martin McDonagh. Roteiro: Martin McDonagh. Elenco: Frances McDormand (Mildred), Woody Harrelson (Willoughby), Sam Rockwell (Dixon), Caleb Landry Jones (Red Welby), Abbie Cornish (Anne).

Existem filmes que todo o roteiro é explicado no final da projeção, dando sentido a toda a história. É o caso, por exemplo, de Psicose (Psycho, 1960), de Alfred Hitchcock; O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), de M. Night Shyamalan; Jogos Mortais (Saw, 2004), de James Wan: no final desses filmes a história é explicada, dando sentido ao filme todo, deixando o espectador satisfeito, resolvendo de forma muito gratificante a trama.

Os Pássaros (The Birds, 1963), também de Alfred Hitchcock; ou a quadrilogia original sobre zumbis de George A. Romero, formada por: A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968); Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978); Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985); e Terra dos Mortos (Land of the Dead, 2005); possuem os chamados “finais abertos”, ou seja, a história não apresenta a resolução final (e, muitas vezes, nem as explicações dos “porquês” no início), procurando resolver apenas o “miolo” do filme, a trama central que realmente importa (sem explicações do começo ou do fim). É uma alternativa do roteiro (se bem conduzida a narrativa), que funciona muito bem e deixa o espectador bastante satisfeito (às vezes, nesses casos, quanto menos explicações, melhor!).

Algumas películas acabam abruptamente, deixando o espectador frustrado com a não resolução satisfatória da história. Podemos citar os contemporâneos: Onde os Fracos não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007), dos irmãos Ethan e Joel Coen; e Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007), de Paul Thomas Anderson. Ficamos com aquela impressão de perplexidade: “Ué? Já acabou?”.

Piores são aqueles exemplos de filmes que constroem toda uma história, criam toda uma expectativa no espectador e, no final, não resolvem absolutamente nada da trama (mesmo sendo baseado em livros ou em casos reais). É o caso de Zodíaco (Zodiac, 2007), de David Fincher: ao final, o espectador sente-se logrado, enganado. É o famoso “filme sem final”. Este filme, Três Anúncios para um Crime (2017), encaixa-se nesta última categoria.

A falta de uma resolução satisfatória da história, acaba por não agradar o público, prejudicando, assim, todo o resultado até então construído. O final (sem final) do filme, acaba por destruir o filme inteiro.

A história é interessante: inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha (estuprada, morta e carbonizada), Mildred Hayes (Frances McDormand, que ganhou o Oscar 2018 de Melhor Atriz [ela já havia sido premiada com o Oscar de Melhor Atriz por Fargo (Fargo, 1996)], uma mulher madura que mora numa cidadezinha do sul dos EUA (ainda racista), decide chamar atenção para o caso não solucionado, alugando três outdoores em uma estrada raramente usada, perto de sua casa.

A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente o delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação. Assim, começam os problemas: familiares (o ex-marido, que a espancava, tem uma namorada de 19 anos); com o filho (que é hostilizado na escola onde estuda); com o dono da empresa dos painéis publicitários (que é agredido); com o policial violento e preconceituoso (Sam Rockwell, que ganhou um (discutível) Oscar 2018 de Melhor Ator Coadjuvante); e até com o dentista (ela o machuca com a broca dentária), ou seja, é um filme difícil que aborda vários temas importantes.

Mas, a linguagem adotada pelo diretor Martin McDonagh é “seca” e “árida”, o que faz com que dê aquela sensação do filme tornar-se arrastado pela narrativa um tanto quanto parada, bem como as interpretações: cruas, verdadeiras, discretas, sem grandes emoções.

Infelizmente, depois de ir criando todo um clima soturno e de resolução do crime, a conclusão frustrante estraga o filme inteiro. Uma pena!

Agora, se você gosta de filmes de cidades pequenas que escondem um sórdido segredo, recomendo o clássico suspense oitentista Veludo Azul (Blue Velvet, 1986), de David Lynch, com Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini e Dennis Hopper. Este sim é fascinante, estranho, bizarro e perturbador!

[outros suspenses bizarros, para quem gosta do subgênero Terror Pscológico são os clássicos: O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby, 1968), de Roman Polanski, baseado no livro de Ira Levin, com Mia Farrow, John Cassavetes; Coração Satânico (Angel Heart, 1987), de Alan Parker, baseado no livro de William Hjortsberg, estrelado por Mickey Rourke, Robert De Niro, Lisa Bonet]

{mas, é por sua conta e risco!}

Divirta-se!

Fontes: IMDb, Box Office Mojo, Blueprint Pictures, Film 4, Fox Searchlight Pictures, 20th Century Fox, Fox Film do Brasil.