Críticas │ Um Lugar Silencioso (2018)

Um Lugar Silencioso (2018) A Quiet Place

EUA, 2018. 1h30min. Classificação Indicativa: 12 anos. Direção: John Krasinski. Roteiro: Bryan Woods, Scott Beck, John Krasinski (baseado na história de Woods e Beck). Elenco: Emily Blunt (Evelyn Abbott), John Krasinski (Lee Abbott), Millicent Simmonds (Regan Abbott), Noah Jupe (Marcus Abbott), Cade Woodward (Beau Abbott).

Realmente, não é um bom momento para os filmes de terror no cinema. Desde que Gus Van Sant teve a infeliz ideia de refilmar Psicose (Psycho, 1998), ainda mais (quase) quadro-a-quadro ou enquadramento-por-enquadramento, do mestre do suspense Alfred Hitchcock (Psicose (Psycho,1960)), tivemos uma safra de péssimos remakes, que já perduram longos e intermináveis 20 anos.

Para piorar, os bons roteiristas foram para a televisão. Nunca houve um período tão glorioso para as Séries de TV quanto a década de 2000 em diante. É um fato a ser comprovado: as histórias das produções para Televisão são melhores do que as histórias das obras feitas para o Cinema.

Para agravar ainda mais os filmes de terror no cinema, a mudança de tecnologia atrapalhou bastante. Os efeitos especiais práticos, os efeitos visuais ópticos; stop-motions; animatrônicos; maquiagens; e maquetes; foram substituídos pelo CGI (Computer Generated Imagery ou Imagens Geradas por Computador) [sem contar obras feitas em vídeo de baixa qualidade (e não película 35 mm), época em que começou a existir uma variedade dos chamados Mockumentaries (ou falsos documentários), com uma estética amadorística; e os Found Footage (supostas fitas encontradas) [utilizando campanhas de marketing pela internet, que era uma grande novidade]; como as péssimas franquias A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999); [Rec] ([Rec], 2007); Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007); Cloverfield: Monstro (Cloverfield, 2008); Sobrenatural (Insidious, 2010); entre tantas outras. Eram filmes oportunistas que se aproveitavam da mudança de tecnologia (celuloide para digital), para obterem lucro em cima de um público que não tinham boas opções, verdadeiramente, cinematográficas].

Portanto, fica a questão: quando Hollywood vai aprender que Filmes de Terror e Efeitos CGI não combinam? É exatamente o que acontece aqui!

A história é muito interessante: uma família de quatro pessoas (um outro integrante morre no início), que moram em uma fazenda no meio-oeste dos Estados Unidos, em um ambiente pós-apocalíptico não muito distante, devem viver em silêncio enquanto se escondem de criaturas sem visão que caçam pelo som.

Para se protegerem, elas devem permanecer em silêncio absoluto, a qualquer custo, pois os monstros (uma espécie de insetos enormes), são atraídos pela percepção do som. Assim, os personagens comunicam-se através da linguagem de sinais, para evitar emitir sons.

A família é formada pelo pai, Lee Abbott (o ator John Krasinski, também diretor do filme; que é marido na vida real da atriz e estrela do filme, Emily Blunt; o personagem Jim Halpert, na versão americana da aclamada série Vida de Escritório (The Office, 2005–2013)), a mãe, Evelyn Abbott (Emily Blunt, de O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006)), a filha adolescente rebelde surda, Regan Abbott (Millicent Simmonds; a atriz que é, realmente, surda, ajudou a ensinar seus colegas atores a gestuarem), o menino inseguro, Marcus Abbott (Noah Jupe, o amigo de Jacob Tremblay em Extraordinário (Wonder, 2017)), e a criança, Beau Abbott (Cade Woodward, que através de uma tragédia logo no começo do filme, cria um sentimento de culpa e, posteriormente, de fraternidade entre os membros da família).

Para complicar ainda mais, a mãe fica grávida (o bebê recém-nascido, poderá chorar e fazer muito barulho ao nascer, o que gera algum suspense e tensão à trama, na melhor sequência do filme).

Basicamente, este é o roteiro: a família tentando sobreviver aos ataques das criaturas que guiam-se pelo som, até descobrir-se suas fraquezas e poder enfrenta-las (felizmente, o filme não tem grandes explicações, ele é bem direto: os monstros, simplesmente, existem!; e a população já foi completamente (quase) toda dizimada; também não existe aquela crítica social tão comum nos filmes pós-apocalípticos de zumbis de George A. Romero [mesmo o diretor considerando seu filme “uma metáfora para a parentalidade” e para a “situação política atual: você pode fechar os olhos e enfiar a cabeça na areia, ou você pode tentar participar do que está acontecendo”]).

Infelizmente, o filme padece do problema que acontece também com outras películas de terror. Como em Sinais (Signs, 2002), de M. Night Shyamalan, com Mel Gibson e Joaquin Phoenix, cria-se uma expectativa tão grande, um suspense tão bem construído, que, quando é apresentado o monstro (digital), decepciona e acaba destruindo (quase) o filme inteiro.

Monstro, em filme de terror, tem que ser utilizado com maquiagem, animatrônicos e/ou dublês caracterizados. Caso contrário, fica tudo muito fake (falso), e não dá medo ou susto algum: monstros digitais, sangue digital, luz digital e cenário digital, definitivamente não combinam com Terror [antes da realização de qualquer filme de terror com monstros, os cineastas deveriam assistir o clássico oitentista A Mosca (The Fly, 1986), de David Cronenberg, estrelado por Jeff Goldblum e Geena Davis, com os efeitos de maquiagem do mestre premiado com o Oscar de Melhor Maquiagem, Chris Walas; também deveriam ver Grito de Horror (The Howling, 1981), de Joe Dante, com Dee Wallace, e a ótima maquiagem do genial Rob Bottin; e o clássico Alien – O Oitavo Passageiro (Alien, 1979), de Ridley Scott, com Sigourney Weaver, e os efeitos do premiado maquiador italiano, Carlo Rambaldi]. Seria muito melhor utilizar a técnica Old School, os efeitos tradicionais cinematográficos (coisa que Francis Ford Coppola fez em seu Drácula de Bram Stoker (Dracula, 1992)).

A trilha sonora de Marco Beltrami (Logan (Logan, 2017)), não deixa maior impressão; e a iluminação da Diretora de Fotografia, Charlotte Bruus Christensen (A Garota no Trem (The Girl on the Train, 2016), também com Emily Blunt), é competente, mas não consegue salvar o filme.

Foi produzido pela Platinum Dunes (produtora de Michael Bay para filmes de terror), e distribuído pela Paramount Pictures: custou $17 milhões e rendeu, só nos EUA (bilheteria doméstica), $63,403,743.

Uma pena! Tinha potencial, atores que funcionam, mas é completamente frustrante.

Para quem gosta do tema, recomendo um clássico moderno: Abismo do Medo (The Descent, 2005), do diretor Neil Marshall. Este, sim, é apavorante! [tem uma continuação: Abismo do Medo 2 (The Descent: Part 2, 2009)]

Agora, se você gosta de filmes de monstros que, realmente, utilizam ótima maquiagem, procure conhecer O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), do mestre John Carpenter, estrelado por Kurt Russell. A maquiagem elaboradíssima e excepcional é criação do lendário Rob Bottin [esta obra é uma refilmagem oitentista de O Monstro do Ártico (The Thing from Another World, 1951), de Christian Nyby e Howard Hawks (não creditado); e possui um prólogo: A Coisa (The Thing, 2011), de Matthijs van Heijningen, estrelado por Mary Elizabeth Winstead].

Divirta-se!

Fontes: IMDb, Box Office Mojo, Platinum Dunes, Sunday Night, Paramount Pictures.