Críticas │ A Forma da Água (2017)

A Forma da Água (2017) The Shape of Water

EUA, 2017. 2h3min. Classificação Indicativa: 16 anos. Direção: Guillermo del Toro. Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor. Elenco: Sally Hawkins (Elisa Esposito), Michael Shannon (Richard Strickland), Michael Stuhlbarg (Dr. Robert Hoffstetler), Octavia Spencer (Zelda Fuller), Richard Jenkins (Giles), Doug Jones (Homem Anfíbio).

Vencedor dos principais prêmios do Oscar 2018 (Melhor Filme; Melhor Diretor, para o mexicano Guillermo del Toro; Melhor Trilha Sonora Original, para o francês Alexandre Desplat; e Melhor Design de Produção). No mesmo evento, Prêmio de Realização Especial para o também mexicano, Alejandro González Iñárritu (O Regresso (The Revenant, 2015), Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), 2014)); e Melhor Animação para Viva: A Vida é uma Festa (Coco, 2017), filme que aborda a história e a cultura mexicana, com carinho e respeito.

Sendo assim, podemos dizer que a cerimônia foi marcada por um tom político (pois o presidente dos EUA, Donald Trump (2017 –     ), insiste em construir um muro entre os Estados Unidos e o México (às custas do próprio povo mexicano), para impedir que eles emigrem); e manifestações contra o assédio sexual e a favor da igualdade de gênero e da diversidade (num momento em que se luta pelo empoderamento feminino, e que Hollywood faz enorme manifestação para evitar assédios e até estupros de mulheres e atrizes, principalmente contra o poderoso produtor americano Harvey Weinstein, cofundador da Miramax).

Também serve de exemplo de como os Estúdios da Universal deveriam ter seguido ao iniciarem seu universo expandido, chamado Dark Universe, pois começaram com o mal recebido A Múmia (The Mummy, 2017), com o astro Tom Cruise.

Mesmo sendo uma homenagem que o diretor e roteirista Guillermo del Toro realiza para seu filme de monstro preferido da era clássica da Universal, O Monstro da Lagoa Negra (Creature from the Black Lagoon, 1954), esta obra é mais um conto de fadas, uma parábola, em um filme poético e romântico…

Conta a história da muda e solitária Elisa (Sally Hawkins (As Aventuras de Paddington (Paddington, 2014); (Paddington 2 (Paddington 2, 2017)))), presa em uma vida de isolamento, que trabalha na limpeza de um laboratório secreto de alta segurança do governo norte-americano. Tem como amiga de trabalho Zelda (a sempre ótima Octavia Spencer (Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2016))), e conta com a ajuda do vizinho Giles (Richard Jenkins (As Bruxas de Eastwick (The Witches of Eastwick, 1987))).

A vida de Elisa é mudada para sempre quando ela e a colega de trabalho, Zelda, descobrem um experimento confidencial secreto: um Homem Anfíbio (Doug Jones (o Abe Sapien de Hellboy (Hellboy, 2004); (o Abe Sapien/Chamberlain/Angel of Death de Hellboy II: O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army, 2008)); (e o Fauno/Homem Pálido, da obra-prima O Labirinto do Fauno (El laberinto del fauno, 2006), todos de del Toro))), que será estudado (e, posteriormente, tentarão disseca-lo), pelo vilão Richard Strickland (Michael Shannon (o general Zod de O Homem de Aço (Man of Steel, 2013))). Ela contará ainda com a ajuda do Dr. Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg (o personagem Arnold Rothstein da excelente série Boardwalk Empire: O Império do Contrabando (Boardwalk Empire, 2010-2013))), um espião russo que ilustra muito bem o pano de fundo da época da Guerra Fria, por volta de 1962 (referências são feitas através de canções e filmes de época).

Elisa apaixona-se pelo Homem Anfíbio (a criatura é extremamente bem feita; em um excelente design de criação), e tenta ajuda-lo a voltar para o mar (ele teria vindo da Amazônia (!)).

Realmente, o filme tem toda uma simbologia do “diferente”: o amor entre a heroína e o anfíbio (que seria um Deus (!)); a amiga negra; o vizinho gay; os realizadores do projeto que são estrangeiros (no discurso de agradecimento no Oscar, Guillermo del Toro começou com a frase que foi a síntese de toda a cerimônia: “Eu sou um imigrante”).

O filme não tem grandes explicações (tem alguns pequenos defeitos): porque Elisa dá exatamente ovo ao anfíbio?…; porque ele gosta de música?…; como ele aprende rápido a linguagem dos sinais?…; ele tem poderes de cura?… e as cenas de nudez e de masturbação feminina são desnecessárias (já que o filme fala de solidão e amor; e não de sexo)…

Mas, o importante é que o filme é uma fantasia romântica, uma alegoria muito bem realizada (há uma belíssima cena da heroína em um número musical típica de Hollywood), bem fotografada, ótima cenografia (custou $19,400,000 e rendeu, no mundo todo, $192,925,346), e um final poético: uma poesia ao amor (seja qual for a forma que for adotada). Encantador!

Para quem gosta de filmes de homens-peixe, recomendo a clássica trilogia da Universal formada por O Monstro da Lagoa Negra (Creature from the Black Lagoon, 1954); A Revanche do Monstro (Revenge of the Creature, 1955) [estréia de Clint Eastwood (não creditado) no cinema] e À Caça do Monstro (The Creature Walks Among Us, 1956).

Para quem gosta de filmes mais “alternativos” e de baixo orçamento, pode aventurar-se no A Ilha dos Homens-Peixe (L’isola degli uomini pesce, 1979), de Sergio Martino, com Barbara Bach e Claudio Cassinelli; já exibido várias vezes na televisão aberta brasileira.

Para quem gosta de comédia romântica (com sereia), indico o delicioso Splash – Uma Sereia em Minha Vida (Splash, 1984), de Ron Howard, estrelada por Tom Hanks e Daryl Hannah [uma curiosidade: existe um telefilme Splash 2 (Splash, Too, 1988), com Todd Waring e Amy Yasbeck].

Divirta-se!

Fontes: IMDb, Box Office Mojo, Bull Productions, Double Dare You (DDY), Fox Searchlight Pictures, TSG Entertainment.